LOT 57 The martyrdom of Saint Sebastian
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Oil on canvas Dimensions 158x106 cm Artist or Maker João dos Santos Ala Attrib. (act. 1750-1760) Notes Pintura adquirida em leilão, com historial incompleto e não autógrafa. O tema religioso associado ao nobre recorte superior do suporte (trilobado) indicia a devoção em altar (público ou privado). A primeira avaliação do desenho, do colorido, do claro-escuro, da plasticidade e da atmosfera, remete a produção da obra para oficinas da capital ligadas ao pintor André Gonçalves (1687-1762). O desenho, embora condizente no geral com aquele da estampa que lhe deu origem (a partir de criação de Hans von Aachen, 1552-1615), mostra-se particular no semblante dos arqueiros, introduzindo fisionomias mais agradáveis, recorrentes em obras saídas da oficina de Gonçalves (ex.: capela de Nossa Senhora das Mercês, Oeiras). Nas estampas e face às obras originais, as informações relativas ao colorido, plasticidade e atmosfera são deficitárias, acabando por obrigar o pintor que as seguia a expôr-se (tendências, gostos, influências). Com a exposição, sobressai a diversidade de cores (amarelo, vermelho, rosa, azuis, púrpuras), ainda que anulada por deficiente gradação das mesmas e limitado claroescuro. O jogo ou a distribuição da luz e sombra não se faz por largos espaços e de forma decidida, tornando o ambiente pouco interessante. As informações sobre João dos Santos Ala e sua actividade artística são escassas para além do que Cirilo Volkmar Machado nos deixou em memória. Na nota biográfica que lhe dedica, insere-o na lista de artistas orientados por André Gonçalves e seguidores do seu estilo («Imitava a maneira de seu Mestre, mas era mais franco»)(Machado: 73). Embora Volkmar Machado indique que o pintor em causa tenha servido a Irmandade de São Lucas entre os anos de 1733 a 1735, os livros da irmandade esclarecem que terá sido admitido anteriormente, em 1730, morando, primeiro, ao Castelo, depois, na Rua das Parreiras (freguesia de Jesus) (Teixeira: 94). Os anos em causa, de 33 a 35, marcam o período em que serviu a irmandade como enfermeiro, com o dever de assistir e acompanhar os irmãos durante a doença (Flor: 87, 88; Irmandade: 14v-15v). Mais tarde e até ao início da década de oitenta de Setecentos, estabeleceu-se de novo ao Castelo, onde teve oficina aberta (Martins: 156, 157). Das poucas obras da autoria de João dos Santos Ala recordadas por Volkmar Machado perdeu-se o rasto a boa parte, reencontrando-se apenas a Anunciação e Coroação de Nossa Senhora (na igreja de Nossa Senhora de Jesus, Lisboa) e os retratos de monges veneráveis da Cartuxa (hoje no A.N.T.T., provenientes do hospício de Nossa Senhora do Vale da Misericórdia de Laveiras, Oeiras). A admissão da presente obra no corpus artístico de Santos Ala baseia-se fundamentalmente no reconhecimento de afinidades notáveis com as pinturas referidas, quer no domínio do traço, quer no campo das cores e atmosfera criada. A escolha deste modelo em particular, de feição maneirista, em detrimento de outros reformados (romanos ou não), foge à regra do período e não havia falta de bons exemplos estampados a circular a tratar o tema (Guido Reni, Jusepe de Ribera, Rubens...), tanto na oficina de formação como entre os demais pares, e ainda assim foi usado. Atendendo ao facto, a explicação lógica para o caso passa por uma imposição/preferência do encomendante. Contrapondo a estampa que lhe deu origem, produzida por gravador desconhecido a partir de gravação de Jan Muller (1571-1628), notam-se diferenças que convém destacar. Eliminaram-se alguns grupos de figuras para que a composição ficasse mais sóbria e com leitura descomplicada ou centrada na acção. Corrigiram-se movimentos e posturas declaradamente maneiristas, proporções e tensões de membros, suavizou-se a musculatura dos corpos. Conclusão, reformou-se a obra exactamente nos pontos-chave do maneirismo, erradicando-se, cirurgicamente, as partes "anti-clássicas" ou "desagradaveis" para a altura. Ao proceder desta forma, identificando os supostos erros da pintura do passado, João dos Santos Ala dá provas de uma formação pictórica completa, não só prática, mas também teórica (tratadística). LÉCIO LEAL Bibliografia: LEAL, Lécio, in MONTEIRO, Joana d´Oliva (coordenação), Maria do Céu e Luís Pereira de Sampaio. Uma colecção em foco, catálogo da exposição realizada na Fundação Medeiros e Almeida, Ed. ADEPA, 2019, p. 44. MACHADO, Cirilo Volkmar – Colecção de Memórias relativas às Vidas dos Pintores (...), Coimbra: Imprensa da Universidade, 1922. TEIXEIRA, Francisco Augusto Garcez – A Irmandade de S. Lucas, Estudo do seu Arquivo, Lisboa: S. n.,1931. FLOR, Susana Varela, FLOR, Pedro – Pintores de Lisboa, Séculos XVII-XVIII. A Irmandade de S. Lucas, Lisboa: Scribe, 2016 B.N.P., MSS, 9002 - Compromisso da Irmandade da Gloriosa Virgem e Mártir Santa Cecília ordenado pelos Professores da Arte da Música em o Ano de 1749, S.l. [Lisboa]: S. n. [Irmandade de Santa Cecília], 1749 (em linha: http://purl.pt/24981). MARTINS, Francisco de Assis de Oliveira – Pina Manique: o Político – o Amigo de Lisboa, Lisboa: Sociedade Industrial de Tipografia, 1948
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